Por que Watch Dogs poderia nunca chegar para PS3 e Xbox 360?

O trailer de Watch Dogs pegou muita gente de surpresa. Não foi apenas por ser um acompanhante de última hora a já brilhante performance da francesa Ubisoft na Electronic Entertainment Expo deste ano.

Menos de dois meses depois que a Epic demonstrou a capacidade definitiva da nova ferramenta Unreal Engine 4 – que está sendo considerada uma janela para o futuro potencial da nova leva de consoles domésticos – a Ubisoft de repente vem com um vídeo que não apenas mostrou algo assustadoramente próximo da promessa absurda de “quase renderizarAvatar” que o designer Cliff Bleszinski dividiu com a mídia na ocasião. A Ubi fez tudo isso em um jogo de mundo aberto repleto de uma variedade de interações potenciais que deixaria Deus Ex envergonhado. É maluquice!

portanto, que, antes de Yves Guillemot anunciar que o jogo chegaria aos consoles, uma parcela da comunidade de desenvolvimento simplesmente jogava de lado a possibilidade de Watch Dogs sair para PS3 e Xbox 360. Muito embora o fato de que o game já esteja com dois anos de desenvolvido nas costas torna plausível que você se depare com o jogo na prateleira de sua loja favorita muito antes de um PS4 ser sequer revelado. De qualquer forma, parecia haver um consenso entre a maioria de que não há console no momento capaz de fazer o que o vídeo apresenta.


Jogadores mais acostumados ao universo de consoles podem achar isto curioso, mas o computador está a anos-luz de distância da capacidade dos consoles domésticos. Os números provam: a placa Xenos, responsável pelo processamento do Xbox 360, é capaz de lidar com em média 240 bilhões de operações computacionais por segundo, um número tornado pequeno se comparado aos 3 trilhões de operações que um processador de ponta é capaz de, bem, processar. É um abismo gigante, ampliado pela concorrência acirrada entre desenvolvedores de placas e chips como a AMD e a NVIDIA e, do outro lado, pelo fato de que a Sony e a Microsoft estão jogando seguro, mantendo-se há sete anos com o mesmo hardware. Em termos simples, quando a nova geração de consoles atingir o mercado, é bem possível que donos de PC vão achar pouca coisa para se interessar.

Mas de volta ao Watch Dogs. Analise por um momento a cena inicial, em que Aiden Pierce, nosso protagonista, caminha em direção à boate. Vê como o vento bate no casaco do personagem e o faz mover? Isso exige deformação de objeto e cálculo de física, além de um uso infernal de tesselação para fazer a nova forma do casaco fazer algum sentido. E toda a luz? Aparentemente ela é dinâmica, então conte com pontos de luz na casa das centenas, além de cálculos para incidência e áreas de sombra móveis e deformáveis. Personagens que respondem a estímulos do ambiente e à ação do jogador?

Todas estas coisas (conquanto não tenhamos assistido animações pré-programadas para a exibição) necessitarão ser programadas e renderizadas em tempo real, e seus resultados precisarão mudar constantemente dependendo da correlação entre cada fenômeno. É um trabalho que deixaria as 240 operações/segundo da Xenos comendo poeira, mas também o tipo de coisa que exige algo além de força bruta por parte da unidade de processamento do aparelho; é preciso algo além. Algo que, há alguns anos, tem sido uma crescente tendência em computadores.


Em 2010, a AMD – então recém-saída de uma feliz junção com a ATI – anunciou a produção da nova linha Fusion. Em termos simples: para rodar um game ou qualquer outro aplicativo, o computador usa a GPU (graphical processing unit, ou unidade de processamento gráfico) para colocar os visuais na tela e a CPU (central processing unit, ou unidade de processamento central) para lidar com os cálculos por trás deles. A APU, entretanto, junta em uma só placa ambas as unidades, e repassa funções de cálculo e renderização para ambos os lados. O resultado é que, ao invés de dividir o trabalho para duas poderosas partes, a APU centraliza ele em uma única estação de trabalho que compensa poder com velocidade, e permite que operações matemáticas sejam compartilhada também com a GPU, ampliando o número de coisas que podem acontecer na tela.

A grande vantagem da APU está em sua portabilidade e na economia de energia que ela possibilita, o que a faz uma companheira ideal para a nova leva de smartbooks e tablets a invadir o mercado. Mas o que a AMD está fazendo com o APU é o que a indústria como um todo está perseguindo: otimização. A Microsoft está forçando criadores de hardware a abandonar CPUs e GPUs individuais a favor de unidades mais integradas para preparar terreno para o exigente Windows 8. Cliff Bleszinski, Tim Sweeney e cia. estão criando a Unreal Engine 4 com base em otimização de pipeline, permitindo que jogos e programadores possam ter acesso mais rápido à memória da CPU, agilizando assim tempos de loading e garantindo framerate estável mesmo em situações complexas como… bem, o que Watch Dog apresenta.

A sacada é que esta tendência tem algo em torno de três anos de idade. As tecnologias que hoje alimentam PS3 e Xbox 360 ao redor do globo tem, no mínimo, sete, e ainda dependem de CPUs e GPUs com tarefas distintas, e rotinas de programação bem mais lentas do que tecnologias como a Unreal Engine 4permitem.Eles teriam que suar pra mostrar qualquer coisa próxima do que vimos. Vale lembrar: não estamos dizendo que os consoles domésticos definitivamente não iriam rodarWatch Dogs. É só que eles possivelmente vão precisar de um grau de trabalho e jogo de cintura jamais visto, e o resultado pode muito bem criar um abismo bem maior do que o que ocorreu entre as versões de PC e consoles de Battlefield 3 – e, como resultado, um número jamais visto de jogadores raivosos e petições na internet. Sabe como são essas coisas.

Vale lembrar da mesma forma que tudo que vimos do game até o momento veio de uma demo rodando em um PC.

Ainda assim, o que o trailer de Watch Dog e a confirmação do jogo para PS3 e Xbox 360ensinam sobre esta e a próxima geração é que talvez nada seja impossível. É apenas como o velho dilema do pote de picles. Nem sempre o que você precisa é força bruta e insistência.



2 comentários:

marcio disse...

jogão tomara que saia ainda para esta geração de consoles vai ser compra certa.

camila disse...

com certeza, jogasso !